Ruptura do Conduto Álvaro Chaves: Parecer Técnico aponta falhas
Parecer foi entregue ao prefeito de Porto Alegre, que afirmou que será contratada empresa para avaliar todo o conduto (foto Ivo Gonçalves - PMPA). Créditos: Arquivo CREA-RS
Entregue na tarde desta quarta-feira (3) ao prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o Parecer Técnico da Ruptura do Conduto Forçado Álvaro Chaves, ocorrida em 20 de fevereiro após temporal que atingiu a Capital, elaborado por Comissão de Especialistas reunidos pelo CREA-RS, apontou sequência de problemas que resultaram no rompimento, entre eles diversas falhas de projetos, de execução e de acompanhamento da obra. Durante a apresentação, o coordenador da Comissão, Eng. Civil André Luiz Lopes da Silveira, que é diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, ressaltou que a chuvas, apesar de terem sido acima das médias históricas, não pode ser apontada como responsável pela ruptura ocorrida.
Para o presidente do CREA-RS, Eng. Luiz Alcides Capoani, é preciso tirar do episódio “lições e aprendizados técnicos”, o que contribuirá para que não mais ocorram situações semelhantes. “Esta foi uma obra complexa, com especificidades hidráulicas, estruturais e hidrológicas diferenciadas”, atentou. Destacou, ainda, o caráter técnico e isento do trabalho, agradecendo aos engenheiros da Comissão pela disponibilidade em responderem ao chamado do CREA-RS e de forma “incansável” e honorificamente “compartilharem seus conhecimentos e capacidades técnicas”.
As Falhas e as recomendações
Aos estudantes, profissionais e representantes da imprensa, as causas do rompimento do conduto foram detalhadas, em nome da Comissão, pelo Eng. Civil André Luiz Lopes da Silveira, ter sido este um “acidente inaceitável no atual estágio da engenharia brasileira”, mas que a intenção não é achar culpados, mas sim, diagnosticar as razões e oferecer ideias e melhorias. Afirmou, ainda, a necessidade de que, antes dos reparos a serem realizados, a Prefeitura realize uma avaliação criteriosa de todo a extensão do Conduto.
Na avaliação da Comissão o acidente teve causas sistêmicas, desde a concepção da obra, precipitação intensa, elaboração do projeto, execução, fiscalização e gestão da obra. Do ponto de vista hidráulico foram apontados 15, entre eles concepção mista inadequada aos sistemas de atenuação de cheias, uso inapropriado de um software para cálculo das situações transientes, passagem de água com velocidade excessiva pela conduto, perdas de carga lineares subavaliadas e modificações no projeto, variando a característica hidráulica do mesmo,”feitas com objetivo de satisfazer a facilidades construtivas, ignorando por completo o que isto poderia acarretar, no comportamento hidráulico da estrutura“.
Do ponto de vista estrutural, destacam-se na avaliação as decisões tomadas alterando o método construtivo do CFAC, de modo a permitir o uso de elementos de concreto pré-moldados no trecho afetado, o “que não conferiu a mesma capacidade estrutural ao conduto conforme indicado no projeto original, reduzindo sua rigidez e resistência estrutural”. Falhas na execução do serviço como “escavações e contenções descuidadas”, concretagem “com sinais aparentes de má qualidade” e armaduras em desacordo com o projeto foram destacadas. Para os especialistas, a existência destes problemas “faltou controle das mudanças e riscos envolvidos, ou seja, falhou a gestão do projeto como um todo, incluindo a fiscalização”.
Entre as sugestões, além da inspeção técnica de todos os trechos do conduto, a Comissão considera que seja necessário uma avaliação hidráulica, a construção de novas galerias na rua Álvaro Chaves, exigência de corpo profissional qualificado nas empresas licitadas para obras e adoção, conforme norma da ABNT, de gestão profissional dos projetos públicos, com afirmou o Engenheiro André. “Senti falta ao longo do projeto de um engenheiro sênior, que acompanha e analisa toda a condução da obra, desde o projeto.”
Prefeitura - Saudando o trabalho da Comissão, que ressaltou ser de especialistas “notáveis”, o prefeito da Capital se comprometeu em contratar uma empresa, o mais rápido possível, para realizar um estudo “geral e criterioso” do sistema. “Temos problemas e temos que resolvê-los para devolver a tranquilidade do Conduto e garantir que fenômenos como esse não ocorram”, afirmou. De acordo com Fortunati - que relembrou todo o histórico da obra, dizendo ter sido ela “uma das mais complexas do poder público” - do ponto de vista “teórico, legal e formal” a prefeitura de Porto Alegre tomou todas as providências cabíveis para que ela fosse de qualidade. Também afirmou que o município não arcará com os custos das novas obras, que deverá ser realizado pelo consórcio executor da obra. “Temos uma garantia legal de cinco anos”, explicou.