Para IPH, desastres não são naturais, mas socialmente construídos
Mudanças climáticas em pauta em painel com a moderação da eng. amb. Nanci Walter, presidente do Crea-RS. Créditos: ArtFoto Produtora/Confea
Não por acaso, a moderação do painel ficou com a eng. amb. Nanci Walter, presidente do Crea-RS, estado que viveu entre abril e maio uma sequência de eventos que culminou em uma tragédia ambiental climática, com várias perdas e destruição da infraestrutura.
Em sua palestra, “Características Geológico–Geotécnicas na Análise de Desastres Climáticos”, o eng. geol. Éder Carlos Moreira ressaltou o período atual, chamado de Antropoceno. “O homem tem gerado mudanças significativas na superfície do planeta, causando implicações nas alterações climáticas e na frequência de eventos extremos”, destacou.
Para ele, a questão não pode ficar apenas com a Defesa Civil. “É necessário sensibilizar as comunidades para os riscos geológicos”, afirmou ao abordar os fenômenos geológicos que causam inundações e deslizamentos, essencial para a mitigação de riscos e o planejamento de resgate.
Mudanças climáticas e as cheias do RS. O que fazer agora?
Com esse tema, o eng. civ. Joel Acruch Goldenfum, diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS e secretário executivo do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do RS, discorreu sobre cheias e enchentes. Fez um balanço sobre as enchentes e inundações no Rio Grande do Sul.
“As notícias não são boas”, iniciou o professor Joel, destacando ainda sobre esperar que todos dentro da sala acreditassem nas mudanças climáticas e na ciência.
“Desastres relacionados ao clima se tornarão mais comuns e severos. Embora isso não seja novidade, há uma falta de crença de algumas pessoas. Enfrentaremos anos mais úmidos no futuro. Eventos extremos, como secas e inundações, serão mais frequentes e intensos. É necessário restaurar as infraestruturas de proteção, estabelecer programas contínuos para a manutenção do sistema contra enchentes, além de formar equipes capacitadas para operar o sistema. Também é essencial educar a população através de iniciativas educativas e manter viva a memória dos eventos passados de enchentes. Desastres não são naturais, mas socialmente construídos”, alertou.
Goldenfum detalhou os eventos climáticos extremos registrados no Rio Grande do Sul, destacando que a série histórica de inundações no Guaíba começou em 1889. No segundo semestre de 2023, em um curto intervalo, ocorreram três enchentes significativas. Em maio de 2024, as principais causas foram anomalias climáticas, mudanças no clima e uso inadequado do solo.
A importância da resiliência das cidades em situações de eventos climáticos extremos
A geol. Cristiane Tinoco dos Santos, da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do ES, iniciou ressaltando a importância da prevenção nas cidades, apresentando uma palestra mais reflexiva com relação à mudança de cultura prevencionista. “A nossa casa precisa ser preservada. Quando se fala em mudanças climáticas, temos que pensar em transformações de padrões a longo prazo, considerando temperatura e clima”.
A tendência é urbanizar mais. Impermeabilizar terrenos, trazendo mais tecnologias para mudanças consideráveis. A urbanização contribui diretamente para o aumento de emissões dos gases de efeito estufa (GEE), dos quais as cidades são responsáveis por 70% das emissões globais.
Alertou ainda sobre a utilização dos recursos hídricos e a criação das cidades. “Vamos continuar com o mesmo padrão? Precisamos mudar o pensamento e a visão com relação à construção das cidades. Ondas de calor extremos, secas, inundação, tempestades relacionadas à ocorrência efetivas dos desastres cada vez mais fortes se não mudarmos o nosso padrão e a gestão de riscos”, ressaltou.
Defendeu maior investimento em ações preventivas e educativas para a transformação. Também falou sobre legislações para melhorar proteção e defesa civil. “É preciso investir em cidades para serem sustentáveis e resilientes”, finalizou.
Gestão de Riscos e Desastres: Uma Governança Estratégica e o Papel do Sistema Confea/Crea
Último palestrante, o geol. Ronaldo Malheiros Figueira, conselheiro federal e secretário executivo da Câmara Temática Metropolitana para a Gestão de Riscos Ambientais, abordou a mudança de foco para a prevenção e governança de riscos e desastres.
Destacou que as legislações acontecem depois de grandes tragédias e colocou o Estatuto das Cidades como fundamental para as novas diretrizes do tema. “As pessoas mais vulneráveis sofrem os efeitos imediatos dos desastres ambientais. Mas hoje já contamos com a Câmara Temática Metropolitana para a Gestão de Riscos Ambientais (CTM-GRA) e o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado.
Defendeu a prevenção e mitigação de riscos e que a Defesa Civil trabalhe com respostas, enquanto o trabalho da Engenharia, Agronomia e Geociências foque na prevenção. “Então, precisamos de ações para reforçar esta governança dentro do Sistema Confea/Crea com um comitê técnico para dar respostas às mudanças climáticas. Já existe uma proposta da Coordenadoria da Geologia e Engenharia de Minas. Tudo o que está acontecendo já falávamos há 20 anos. Agora essas tragédias climáticas são uma realidade.”
A moderadora, eng. amb. Nanci Walter, finalizou o painel falando um pouco do projeto Reconstruir-RS, que contribuiu para a realização de mais de 500 laudos técnicos que contribuíram para a retomada das cidades gaúchas.
“A gente espera que não aconteça em nenhum outro lugar o que vivemos. Arregaçamos as mangas e provamos que somos resilientes”, destacou.
Reportagem: Jô Santucci (Crea-RS)
Edição: Henrique Nunes (Confea) Revisão: Lidiane Barbosa (Confea)
Equipe de Comunicação da 79ª Soea
Fotos: ArtFoto Produtora/Confea