Especialistas divergem sobre impactos do horário de verão no Brasil
Créditos: Arquivo CREA-RS
Na última quinta-feira (19), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou, a pedido do Ministério de Minas e Energia (MME), uma nota técnica sobre a aplicação do horário de verão. “O ONS realizou os estudos sobre o horário de verão e recomendou sua adoção, visto que há ganhos positivos para o setor elétrico, contribuindo para a eficiência do Sistema Interligado Nacional (SIN) e, principalmente, ampliando a capacidade de atendimento na ponta de carga”, afirmou o diretor-geral da ONS, Marcio Rea. Segundo o documento, a iniciativa poderá reduzir a demanda máxima em até 2,9%. A medida, que caberá ao Governo Federal decidir se será implementada, pode gerar uma economia de aproximadamente R$ 400 milhões nos custos operacionais entre outubro e fevereiro.
No entanto, o especialista e professor de Engenharia e Mudanças Climáticas da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Amaral Shayani, destacou que, no último ano em que o horário de verão foi adotado no Brasil, o ONS reportou uma economia de apenas meio por cento. "A economia gerada pelo horário de verão é pequena. Uma campanha de conscientização para o uso eficiente de energia, como reduzir o tempo de banho, pode economizar mais energia e água do que o horário de verão. Existem alternativas mais eficazes para economizar energia", ponderou Shayani.
Além disso, Shayani enfatiza a importância de diversificar a matriz energética do Brasil, especialmente em um cenário de incertezas climáticas. “O sistema elétrico do Brasil, majoritariamente baseado em hidrelétricas, é vulnerável às mudanças climáticas, que podem resultar em menos chuvas e crises hídricas recorrentes. A solução tradicional de usar termelétricas a gás natural é cara, poluente e insustentável. Para evitar esses problemas no futuro, o Brasil precisa expandir suas fontes de energia renovável, como solar e eólica”, defendeu o especialista.
Já a coordenadora das Câmaras Especializadas de Engenharia de Segurança do Trabalho (CCEEST), Márcia Luiza Pereira dos Santos, alertou para os impactos negativos que o horário de verão pode ter sobre a produtividade e a saúde dos trabalhadores, especialmente em setores que operam em turnos contínuos. "No setor agrícola, o novo horário pode trazer desafios para os trabalhadores rurais, impactando sua saúde e bem-estar devido à alteração dos padrões de sono, além de prejudicar a logística de transporte de produtos perecíveis, aumentando o risco de perdas. Muitos especialistas acreditam que os custos associados à perda de produtividade e eficiência podem superar os benefícios energéticos esperados", advertiu.
Pesquisa
Um levantamento realizado pelo portal Reclame Aqui em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) aponta que a maioria das pessoas tem uma opinião favorável sobre o horário de verão. A pesquisa, que entrevistou três mil pessoas, revelou que 54,9% dos participantes apoiam a adoção da mudança nos relógios ainda este ano.
Os maiores índices de apoio foram observados nas regiões onde o horário era adotado: Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Sudeste, 56,1% são a favor da mudança, sendo 43,1% favoráveis e 13% parcialmente favoráveis. No Sul, 60,6% são favoráveis, 52,3% totalmente favoráveis e 8,3% parcialmente favoráveis; e, no Centro-Oeste, 40,9% aprovariam a mudança – com 29,1% se dizendo totalmente favoráveis e 11,8% parcialmente a favor. Nas três regiões somadas, 55,74% são favoráveis ao adiantamento dos relógios em uma hora.
Para 43,6% dos entrevistados, a mudança no horário ajuda a economizar energia elétrica e outros recursos. Para 39,9%, a medida não traz economia e 16,4% disseram que não sabem ou não têm certeza. O estudo também mostra que, para 41,7% dos entrevistados, o horário de verão torna sua cidade mais atraente para o turismo. Apenas 9,4% acreditam que a cidade fica menos atrativa, enquanto 43,6% não percebem diferença.
Em termos de segurança, a pesquisa indica que 35,2% dos participantes se sentem mais seguros durante o horário de verão, especialmente no momento de saída para o trabalho, enquanto 19,5% relatam se sentir menos seguros. Para 41,9%, a mudança no horário não tem impacto. A pesquisa possui uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com um nível de confiança de 95%.
Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea
com informações da Agência Brasil