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Tecnologia e geociências: a chave para combater incêndios florestais


Créditos: Artur Moês (primeira foto) e acervo pessoal

A resposta para o crescente desafio dos incêndios florestais pode estar na união entre tecnologia e geociências. Um exemplo dessa solução integrada é o sistema Alarmes, uma ferramenta desenvolvida pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa (IDL/ULisboa).

O sistema utiliza imagens de satélite, dados sobre focos de calor e inteligência artificial para fornecer alertas rápidos e eficientes sobre o avanço do fogo. Com recursos como mapeamento quase em tempo real de áreas queimadas e a disponibilização de mapas históricos e estatísticas detalhadas, o Alarmes subsidia planejamento e ações de combate, além de aumentar a sensibilização dos tomadores de decisão e a conscientização da sociedade.

Na entrevista a seguir, a coordenadora do Lasa, doutora em Geofísica e professora do Departamento de Meteorologia da UFRJ, Renata Libonati (à esq.), ressalta como a integração entre tecnologia avançada e geociências é essencial para enfrentar os desafios atuais e futuros relacionados a incêndios florestais.

Confea: O sistema Alarmes usa imagens de satélite e inteligência artificial para monitorar incêndios no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia. Como a ferramenta funciona?
Libonati: O sistema Alarmes serve como alerta rápido e ágil sobre o avanço da área afetada pelo fogo de forma a apoiar ações de combate e prevenção a incêndios. O sistema combina imagens de satélite da Nasa, focos de calor e inteligência artificial para identificar diariamente a localização e a extensão dessas áreas. As informações que são disseminadas pela plataforma são a localização e a extensão da área total queimada até o momento por qualquer incêndio ou queimada que esteja ocorrendo. Hoje em dia, a plataforma engloba o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia, sendo todos os seus municípios, unidades de conservação e terras indígenas.

"Dentro da crescente demanda nacional por soluções como preservação ambiental, uso sustentável de recursos naturais e saúde pública, as geociências têm papel fundamental na compreensão desses desafios e na geração de conhecimento e desenvolvimento de novas tecnologias para subsidiar ações não só de mitigação, mas também de adaptações dos grandes problemas socioambientais. Somos os profissionais capazes de compreender os processos físicos, sociais e econômicos que estão interligados, além dos aspectos obviamente ambientais e climáticos, permitindo propor soluções de uma forma cada vez mais interdisciplinar para esses grandes problemas que enfrentamos."

Confea: Como essas informações auxiliam na tomada de decisão?
Libonati: Nas últimas décadas, os incêndios têm crescido não só de intensidade, mas de frequência e duração não apenas nos ecossistemas do Brasil, mas ao redor do mundo. Isso tem causado impactos negativos ao meio ambiente, à vida selvagem, à saúde humana e às infraestruturas. Porém, eliminar completamente o risco de ocorrência desses grandes incêndios não é possível porque eles resultam de uma interação muito complexa de vários fatores, como meteorológicos, físicos, ecológicos, econômicos e sociais. Esses fatores estão em constante mudança, além do próprio clima que está em mudança. Entretanto, tem uma série de medidas que podem ajudar a reduzir esses riscos de uma forma eficiente, como a restrição de atividades que podem levar a ignições acidentais e o correto manejo da vegetação antes da época de fogo. Além disso, existem ações durante a própria ocorrência do incêndio que podem ser feitas para diminuir esses impactos, como o uso de boas estratégias de supressão ou um combate adequado de forma rápida. Nesse contexto é muito importante você conhecer e ter acesso a informações de qualidade e de forma rápida sobre o comportamento e a evolução das áreas que estão sendo afetadas por esses incêndios e isso só é possível de ser feito de uma forma consistente por meio do sensoriamento remoto, ou seja, por meio do uso de satélites ambientais para auxiliar no gerenciamento, na preparação e na resposta a esses grandes incêndios. Porém, as abordagens convencionais de monitoramento dessas áreas queimadas até então contemplavam apenas observações no contexto histórico, informações mensais que demoravam para ser comunicadas. Isso era uma lacuna no monitoramento, ou seja, não existia um monitoramento diário da área queimada, o que fazia com que houvesse uma subestimação do risco porque na época não era possível avaliar a evolução dessa área de forma a tomar uma decisão rápida sobre essas ocorrências. As informações que fornecemos sobre a precisa localização dessas áreas queimadas em tempo quase real podem auxiliar na produção de dados para o planejamento das ações de combate. Contribuem também para melhorar a difusão de informação para a sociedade. Também podem subsidiar as agências com poder de polícia na aplicação de auto de infração ou a própria polícia judiciária na atividade de perícia criminal para mensurar o que foi destruído durante incêndios.

Renata Libonati foi homenageada pela empresa 3M, em 2023, como uma das oito mulheres
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Confea: Além do monitoramento em tempo quase real, como a plataforma Alarmes usa previsões meteorológicas para indicar o risco de propagação de fogo?
Libonati: Esse monitoramento em tempo quase real do sistema Alarmes é apenas um dos produtos que disponibilizamos na plataforma. Um outro produto tem a ver com previsões de perigo de fogo que esse, sim, utiliza previsões meteorológicas para indicar a probabilidade, diante das condições meteorológicas, de o fogo se propagar com rapidez ou não, caso haja uma ignição. Assim, a plataforma Alarmes disponibiliza essas previsões para os próximos sete dias. Então, ele é um indicador que quantifica, com base em informações de temperatura, chuva, umidade e vento, qual é o perigo de se ter uma grande propagação de fogo dadas aquelas condições meteorológicas. E essas informações são muito úteis para tomar decisão em relação a quais áreas os órgãos de prevenção devem ficar mais em alerta, para onde devem levar o seu contingente e quais as áreas que não precisam dessa atenção porque estão em baixo risco.


Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea

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