Kiss: o aprendizado após a tragédia em discussão pela Unijuí
Eng. Burille destacou a importância da qualificação dos mecanismos de prevenção. Créditos: Arquivo CREA-RS
Teve início na quinta-feira (03), no Salão de Atos da Unijuí, o Seminário “Kiss: o aprendizado após a tragédia” - 1º Seminário sobre segurança, prevenção de incêndio, legislação, questões psicossociais, responsabilidades, direito dos cidadãos após tragédia ocorrida na Boate Kiss em Santa Maria/RS. A Unijuí é parceira do “Núcleo Missões de amigos, parentes e sociedade em geral na defesa dos direitos dos cidadãos vítimas da negligência do caso Kiss – Santa Maria/RS” na realização do evento. Um bom público acompanhou o primeiro painel, que teve como tema “Questões Técnicas, Legislação, Normas e Postura Profissional”. Dentre os presentes, estavam acadêmicos, docentes e colaboradores da Universidade, além de familiares, representados pelo Núcleo Missões e também da Associação das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.
Na abertura do evento, o presidente do Núcleo Missões, Jorge Luís Malheiros, destacou a importância da iniciativa. “Precisamos debater este assunto, não torná-lo uma caixa preta, mas sim identificar as falhas, debater os riscos, sem nomear ou acusar alguém, mas levar ao conhecimento de toda sociedade e buscar soluções confiáveis”. Malheiros também ressaltou que o dia 27 de janeiro de 2013 ficará como marco na história do país para uma mudança de postura. “Este é o compromisso deste evento, expor tudo que identificamos que não está correto e indicar o que precisa mudar”.
O Prefeito de Ijuí, Fioravante Ballin, salientou que o momento era de reflexão e aprendizado. “Infelizmente muitas vezes o aprendizado vem pelas tragédias, catástrofes e guerras, que ceifam muitas vidas. Temos que estar conscientes e promover o debate, que levará ao aprendizado, evitando que os erros se repitam”. Acrescentou ainda que uma nova realidade tomou parte de todos os municípios brasileiros após a tragédia da boate Kiss, e que eventos como este seminário são importantes para este trabalho. A Vice-Reitora de Graduação da Unijuí, Cátia Nehring, salientou que a Universidade não podia se furtar de aprender com esta tragédia, e prova disso é a sua inserção na promoção desse evento, juntamente com os núcleos e associações das vítimas representadas no seminário. “Precisamos olhar para aquele dia com a perspectiva de mudança, para aprender”, salientou, acrescentando que a Unijuí exerce um papel fundamental de formação de diferentes profissionais, citando enfermeiros, Engenheiros e outras áreas que estiveram e estão diretamente implicadas com a tragédia.
O Presidente da Associação das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Alves Ferreira, disse que a sociedade estava precisando deste evento, que será o primeiro de muitos a serem realizados. “Tivemos um atraso de 80 anos nas nossas vidas, que é a expectativa de vida que nossos filhos tinham. Precisamos discutir mudanças para evitar que este sofrimento se repita com outras famílias”. Adherbal também destacou que, além dos familiares das 242 vítimas, existem as famílias dos cerca de 700 sobreviventes, o que significa um universo de aproximadamente 35 mil pessoas diretamente implicadas com a tragédia.
Na sequência, foi formada a mesa para o primeiro painel da manhã, sobre “Questões Técnicas, Legislação, Normas e Postura Profissional”. O debate contou com as participações do Coordenador-Adjunto da Câmara Especializada de Engenharia de Segurança do Trabalho do CREA-RS, vice presidente da Associação Sul Rio-grandense de Engenharia de Segurança no Trabalho e vice presidente da Associação Nacional de Engenharia de Segurança no Trabalho, Eng. Nelson Agostinho Burille; do Secretário Municipal de Desenvolvimento Obras e Trânsito de Ijuí, Ubiratan Erthal; do Major Thomas Jacson Trindade Lopes, Comandante do 12º Corpo de Bombeiros; do Presidente do Sindicato dos Técnicos em Segurança do Trabalho do RS, Nilson Airton Laucksen; e da professora Cristina Pozzobon, coordenadora do Curso de Engenharia Civil da Unijuí. O Eng. Burille destacou a importância qualificar mecanismos a prevenção de acidentes, assim como uma fiscalização eficiente por parte do poder público.
À tarde, ocorreu o painel “Questões Psicossociais, Saúde e Comportamentos”, com os palestrantes Soeli Guerra – Enfermeira, Coordenadora do Centro Integrado de Apoio às Vítimas de Acidentes do HUSM – CIAVA/UFSM; Isabel Guimarães, jornalista da UFSM; Ana Carolina Cademartori, Psicóloga da UFSM; e Viviane Heck da Costa, Psicóloga da UNIFRA, atuando na coordenação a professora Sônia Fengler, da Unijuí. A enfermeira Soeli Guerra falou do trabalho desenvolvido pelo Centro, instituído já nas primeiras horas após a tragédia da boate Kiss, para atender às vítimas e seus familiares e integrado por enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais e médicos de diversas especialidades, em especial pneumologia, psiquiatria e neurologia. Segundo a coordenadora, cerca de 620 pacientes foram atendidos nas primeiras 24 horas pelos hospitais. No HUSM, 120 foram internados nas primeiras 24 horas. “Nunca havíamos nos deparado com uma situação desta dimensão”. Hoje, passados oito meses da tragédia, o Centro presta atendimento a cerca de 1.200 pessoas cadastradas, considerando vítimas e familiares, a partir de convênio firmado entre o Ministério da Saúde, Secretaria Estadual, Secretarias Municipais de Santa Maria e Porto Alegre e HUSM.
O último painel versou sobre as “Questões Jurídicas” com as presenças do Promotor Érico Barin, do Ministério Público; Felipe Kirtcher, da Defensoria Pública; Marcos Vianna, Delegado de Polícia de Santa Maria; Humberto Meister, da 23ª Subsecção OAB/Ijuí; e Jorge Luis Malheiros, Presidente do Núcleo Missões, atuando na coordenação o professor Aldemir Berwig, da Unijuí. O Promotor Érico Barin, do Ministério Público, fez um apanhado geral sobre o trabalho desenvolvido pelo MP e ressaltou que a tragédia serviu para alertar sobre a negligência em diversos setores, especialmente no tocante a fiscalização e elaboração dos planos de incêndio. “Há muito pouco de acaso no que aconteceu na Kiss naquela noite. Tudo que se realizou teve a mão humana. Foi algo que chocou o mundo e ao MP cabe responsabilizar no âmbito criminal bem como abrir a discussão sobre uma série de medidas necessárias para garantir a segurança”, afirmou Barin.
Com informações Unijuí