Notícia

Oitava edição de Encontro de Coordenadores de Curso de Agronomia debate formação profissional


Créditos: Arquivo CREA-RS

O CREA-RS promoveu, em parceria com a Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul (Sargs), nesta terça-feira (30), o 8º Encontro de Coordenadores de Curso de Agronomia, voltado para a formação de Engenheiros Agrónomos no Brasil. De forma online, 19 coordenadores de cursos do estado, junto a 30 professores e profissionais, estiveram presentes.



Dando boas-vindas a mais um encontro, o coordenador-adjunto da Câmara Especializada de Agronomia, Eng. Agr. Fernando Pfeifer, destacou a importância do evento que “congrega os agrónomos do Sistema com os responsáveis pela formação académica dos profissionais”. Falou, ainda, da satisfação em participar da organização desta que é a oitava edição do Encontro. “Chegamos a mais um ano deste evento que é tão tradicional e tenho certeza que este encontro será tão importante como os demais nos quais participamos.”


O presidente da Sociedade de Agronomia do RS (Sargs), Eng. Agr. Leonardo Cera, destacou fazer parte do estatuto da entidade tratar da questão da formação, também atendendo à demanda da Confederação das Federações de Engenheiros Agrónomos do Brasil (Confaeab). “Nossa confederação maior em nível nacional está buscando criar em cada unidade federativa uma discussão do panorama do ensino da agronomia e suas principais demandas e nos somamos ao CREA-RS nestas temáticas, principalmente de uma preocupação que é a evasão dos estudantes”, relatou.

O pioneirismo do Rio Grande do Sul em encontros que debatem a formação profissional foi destacado pelo presidente da Confaeab, Eng. Agr. Kleber Santos. Falou, ainda, sobre os avanços já obtidos nos oito anos de debates no RS e cinco em nível nacional. “Temos debates que são balisares como o da característica holística, sistémica e eclética da nossa profissão, conforme preconiza o Decreto 23.196 /33, que é um decreto antigo, mas com grande validade porque dá as bases da nossa formação que se juntam ao avanço tecnológico, que é claro, é contínuo, mas não implica em mudanças curriculares”, defendeu, lembrando do Encontro Nacional a se realizar em Brasília nos dias 08 e 09 de agosto, onde, além de importantes debates, será apresentado um modelo de acreditação de cursos de Agronomia.


O coordenador da CEAGRO, Eng. Agr. Alexandre Zillmer, também se manifestou aos participantes. “Este é um espaço valoroso. Nós, como Conselho, temos como atividade finalística a proteção da sociedade, mas é também verdade que queremos proteger os nossos profissionais e suas atribuições, então essa discussão sobre currículo, sobre educação é fundamental para o futuro da nossa profissão.”

Encerrando as falas de abertura, representando a presidente do Conselho, Eng. Amb. Nanci Walter, o 1º vice-presidente, Eng. Agr. Matheus Piato, reiterou o papel do Conselho em “homologar os currículos de formação dos alunos dos cursos das universidades e faculdades no estado, daí a importância em estreitar a relação entre o Crea e as instituições de ensino. “Com este evento buscamos fomentar nossa relação e engrandecer as nossas escolas, dando uma visão da importância das nossas relações para que não tenhamos profissionais sem as habilitações plenas no curso de Agronomia no mercado profissional.”

Palestras

Contexto e Perspectiva do Ensino e Formação de Engenheiro Agrónomo no Brasil

Após a abertura, o evento virtual contou com palestras essenciais para o setor. A primeira delas, "Contexto e Perspectiva do Ensino e Formação de Engenheiro Agrónomo no Brasil", foi ministrada por Simone Imperatore, doutora em Diversidade Cultural e Inclusão Social, mestre em Desenvolvimento Regional, além de bacharel em Ciências Contábeis e pedagoga.

Dizendo de seu estreito relacionamento com a área agronómica, apesar de não ser sua formação, Imperatore trouxe o que considera serem as principais lacunas existentes hoje nas diretrizes curriculares das escolas de Agronomia do país com o viés do tripé para a formação profissional, baseado em: ensino, pesquisa e extensão.

Para a palestrante, não é possível prescrever uma modelagem curricular, por ser o currículo o reflexo da entidade institucional, ou seja, a materialização da missão, visão, valores e filosofia institucional de cada uma das instituições brasileiras, assim como também é – “ou deveria ser” - a materialização das demandas do território onde está inserida esta instituição, tendo um currículo resultando do diálogo entre esses objetivos.

“Quais são as competências que quero do meu egresso e como isto está refletido nas diretrizes pedagógicas? Como mensuramos isso? Quais os principais desafios apresentados e como a formação em agronomia pode enfrentar isto, tendo em vista, inclusive, os desafios impostos pelas mudanças climáticas e como ter como preceito investir na sustentabilidade? Como a experiência prática tem sido oportunizada? Como estão as questões éticas, de responsabilidade social, de diversidade e inclusão inseridas no meu currículo?”, enumerou Simone como indagações pertinentes para a análise do que está sendo ofertado aos alunos como experiência de aprendizado para um itinerário formativo coerente com os desafios da curricularização e da formação de qualidade.

Falou, ainda, das possibilidades de extensão e do uso das novas tecnologias, que devem fazer parte do processo de ensino. “Temos que pensar na forma como a extensão vai atravessar esse currículo, na forma como programas e projetos fundamentais ao percurso de formação terão diálogo com diferentes parceiros e de que forma eles podem potencializar o desenvolvimento de novas tecnologias”, afirmou, ressaltando que “pesquisa na extensão” e “extensão nos programas de pesquisa” potencializam a formação continuada.

“Tudo isso lembrando que o currículo tem que ser flexível, mas de forma institucionalizada e pré-definida, com indicadores de avaliação. A aprendizagem investigativa é inovadora em toda a caminhada académica e metodologias ativas que exigem avaliações ativas e inovadoras integrando métodos que reflitam a natureza interdisciplinar do currículo. Precisamos de programas estabelecidos e boas práticas de ensino sempre de acordo com a proposta do curso e com as demandas do território de inserção. Um currículo que trabalhe a pesquisa e extensão como metodologias ativas de aprendizado com o engajamento do mercado e da comunidade.”

Por fim, a professora disse que todas estas reflexões e sugestões de boas práticas revelam a necessidade de uma abordagem mais integrada com currículos inovadores e com impacto social. “As coordenações de curso têm que fomentar essa inovação curricular e pedagógica integrando um rol de tecnologias, metodologias e práticas que respondam à sua identidade, às necessidades e demandas do mercado e, lógico, incorporando tendências nacionais e internacionais. Isso envolve trabalho contínuo, abrangente e monitorado a partir dos insumos avaliativos num ciclo autoalimentado para que os currículos dos cursos de Agronomia permaneçam relevantes e atualizados, que é o nosso objetivo.”

Importância da Função de Coordenador do Curso e Valorização dos Professores na Formação Plena de Profissionais de Agronomia

Em seguida, o Engenheiro Agrónomo Moacir Cardoso Elias, mestre em Tecnologia de Alimentos e Doutor em Agronomia, apresentou a palestra "Importância da Função de Coordenador do Curso e Valorização dos Professores na Formação Plena de Profissionais de Agronomia".

“A função do coordenador não é meramente de gestão, ela é muito mais uma função de transmitir aos estudantes as informações e, principalmente, a identidade profissional”, destacou logo de início, ressaltando o perfil multidisciplinar da formação agronómica. “Os professores nem todos são engenheiros agrónomos, dadas a nossa formação múltipla. No entanto, ele tem que conhecer o curso e quem ele está formando, seja um químico ou um matemático. Ele está participando da formação de um engenheiro agrónomo e isso se dá via projeto pedagógico”, considerou.



Para o professor, a qualificação é a base do profissional e as atribuições vinculadas ao aprendizado são inegociáveis. “Isso é nossa identidade, mas até chegar na atribuição tem a caminhada, a formação e o compromisso a que cada curso se propõe com sua matriz curricular”, explicou. Para ele, o projeto de cada escola deve ser operacional “não uma peça de literatura”, mas um instrumento que permita a identificação do ensino proposto para que se chegue à identidade do profissional formado naquela escola e instância, explicando, ressaltando as diferenças entre matriz – que expressa as matérias dadas – e grade curricular, que seria o ordenamento das disciplinas.

Falou também sobre conteúdo e disciplinas. “Não é a disciplina e sim o conteúdo em quantas disciplinas aparecem. A mesma disciplina pode ter mais de uma matéria e a mesma matéria deve ser desdobrada em mais de uma disciplina”, exemplificou.

Falou sobre a evolução do símbolo profissional, de 1946, do Brasil como um celeiro, destacando a frase cunhada pelos estudantes à época – “solo é pátria, cultivá-lo é engrandecê-la”. Destacou, ainda, o fato de ser ela - a agronomia - uma das três ciências clássicas da humanidade, “mãe” das demais, junto à Medicina, na área da saúde; ao Direito, nas áreas sociais, humanas e normativas; e a Agro, ciência mãe das áreas tecnológicas, agrárias e biológicas. “Isso não nos faz melhores que as demais, mas é uma referência significativa. A cultura do solo é um dos grandes marcos da civilização, o diferencial que deu base à sociedade moderna. E nós, Engenheiros e Engenheiras Agrónomas somos parte deste processo”, destacou.

Falando sobre as diversas áreas de atuação dos engenheiros agrónomos, destacou a gestão ambiental. “É parte do nosso juramento: respeitar o ambiente. Então, ninguém tem tanto compromisso com o meio ambiente quanto o Engenheiro Agrónomo que é parte do nosso juramento profissional.”

Discorreu, ainda, sobre os regionalismos que podem haver no ensino, mas que todos os egressos devem sair com o foco nos mesmos objetivos. Apresentou, ainda, um pequeno histórico da evolução da profissão no país. “Este é o contexto e a essência de todas as mudanças que tivemos e vamos ter, mas sempre tendo em mente a identidade da nossa profissão”, destacou, lembrando que foram quase 50 anos sem a regulamentação profissional (entre 1883 e 1933). “Por isso temos que respeitar isto”, concluiu.

Por fim, falou da importância da valorização dos professores e coordenadores do curso. “Quem se dispõe a formar colegas precisa ser valorizado por isso e não sobrecarregado”, afirmou. Para ele, ainda, os coordenadores de curso de agronomia devem ser Engenheiros Agrónomos. “Ele deve ser identificado com a profissão, pois é neles que os alunos vão se inspirar.”

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