A importância da CAPES na trajetória do mais jovem doutor do Brasil
Créditos: Arquivo CREA-RS
Há 70 anos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil, atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados brasileiros.
Essencial na vida de pesquisadores e cientistas, a CAPES têm sofrido com corte de verbas e renúncias coletivas de seus quadros, agravando a crise que toda a área de educação do País vem passando.
Para mostrar a relevância das instituições públicas na trajetória e no fortalecimento dos futuros profissionais e na consolidação dos projetos e pesquisas realizados pelas universidades, entrevista o mais jovem doutor do Brasil.
Graduado em Engenharia Civil, em 2014, Luan Ozelim se tornou o mais jovem universitário a concluir doutorado no Brasil pela Universidade Brasília (UnB), com recém completados 22 anos. A Capes foi o órgão financiador de todo seu doutorado.
Até chegar na graduação Luan Ozelim participou de cinco projetos de iniciação científica. Encerrado o doutorado, o engenheiro já fez dois pós-doutorados e está no terceiro período como pesquisador-colaborador da UnB. Desde 2014 é, ainda, servidor de carreira do Senado Federal.
O sucesso acadêmico e profissional do jovem demonstra a importância dos programas de fomento ao ensino superior alavancado pelo CAPES, fundação criada oficialmente em 11 de julho de 1951.
Pode contar um pouco da tua trajetória?
Para poder explicar melhor, tenho de voltar aos tempos de pré-escola, pois desde lá tenho sido orientado por profissionais atenciosos que me propiciaram grandes oportunidades. Nesse período estudava na rede de escolas públicas do Distrito Federal. Em especial, na Escola Classe da Vila Militar do RCG, em Brasília-DF, os profissionais da escola notaram que seria interessante que eu avançasse um ano na grade escolar para acelerar minha aprendizagem. A partir daí continuei meus estudos normalmente até que fui aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) na metade do terceiro ano do ensino médio, quando estudava no Colégio Militar de Brasília. Felizmente o colégio possibilitou que eu me matriculasse e desse início aos meus estudos em Engenharia Civil.
Após iniciar o curso e ter contato com a vida acadêmica, tinha como objetivo, já no terceiro semestre da graduação, que minha meta seria tornar-me professor universitário, em especial na UnB. A partir desse ponto, tentei participar de todos os projetos e iniciativas que existiam na universidade a fim de desenvolver essa vertente acadêmica e de docência. Já sabendo que o caminho para uma posição universitária era longo, passei a adiantar as disciplinas que pude, justamente para ingressar na pós-graduação o mais rápido possível. Esse processo permitiu que eu finalizasse o curso de Engenharia Civil em quatro anos.
No momento de ingressar na pós-graduação, considerando as iniciativas que já tinha participado e a produção científica que tinha alcançado (artigos publicados em conferências e periódicos da área), tive a possibilidade de concorrer diretamente ao doutorado. Dessa forma, felizmente fui aceito diretamente ao doutorado e continuei meus estudos. Por fim, após dois anos de estudos, como já havia cumprido os requisitos exigidos para a marcação da defesa, defendi minha tese e obtive o título de doutor.
Até então, minha atuação como Engenheiro Civil era restrita a questões acadêmicas e de consultoria. No entanto, perto de finalizar meus estudos fui aprovado em um concurso público para desempenhar o papel de Engenheiro Civil. Desde então, tenho atuado na área.
Qual a relevância da Capes e dos projetos de fomento à pesquisa na tua formação?
De maneira mais direta, fui agraciado com uma bolsa de estudos da Capes para realizar meus estudos de doutoramento. Esse apoio, além do fator financeiro, também foi muito importante para que eu sentisse que poderia contar com uma rede de apoio institucional, criada especificamente para dar suporte aos pesquisadores. De maneira indireta, o Programa de Pós-Graduação em Geotécnica da UnB é contemplado pelo denominado Programa de Excelência Acadêmica (Proex), que busca manter o padrão de qualidade dos programas de pós-graduação com nota 6 ou 7. Dessa forma, não apenas eu, mas diversos outros pesquisadores também puderam contar com bolsas e recursos para o desenvolvimento das pesquisas. Isso criou um ambiente extremamente favorável para que minha pesquisa e formação pudessem avançar.
Que tu achas sobre a importância, de um modo geral, para o desenvolvimento e autonomia do país do investimento público nas universidades e centros de pesquisa?
Acredito, sem a menor dúvida, que o investimento em ensino, pesquisa e extensão universitária são fundamentais para o desenvolvimento e autonomia do Brasil. Digo mais, a educação é uma das mais poderosas ferramentas de transformação da sociedade. Ou seja, uma sociedade que evolui o faz em grande parte por meio da educação. Assim, não vejo outro caminho para o avanço pessoal e social que não aquele da educação de qualidade.
Todo o investimento que é feito nessas áreas, por meio do ensino público gratuito de qualidade ou de incentivos e subsídios para ingresso na educação privada, deve, em minha opinião, gerar contribuições que possam agregar para a coletividade.
Esse investimento também é crucial para que mais e mais talentos possam ser descobertos e integrados à pesquisa e ao desenvolvimento nacional. Há ainda, infelizmente, uma grande assimetria dentro da sociedade, o que exclui alguns jovens brilhantes da busca pela carreira acadêmica. Já existe, por outro lado, uma série de iniciativas e instituições que prestam esse apoio aos pesquisadores, dentre elas o CNPq, a Capes e as FAPs. Assim, somente a partir do fortalecimento dessas instituições de apoio é que será possível ampliar e nivelar as oportunidades para os estudantes, atraindo mais jovens promissores para o mundo acadêmico e, em última análise, dando maior destaque ao Brasil no cenário científico internacional.
O destaque científico acaba impulsionando o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos, o que invariavelmente melhora as condições da indústria nacional e desenvolve o país.
Qual tua principal contribuição nas tuas áreas de estudos?
Dentro da Engenharia Civil, procurei me especializar em Geotecnica, área que lida com o entendimento do comportamento de materiais naturais, em especial dos solos. Dentro da Geotecnia o que mais me interessa é o processo de criação de modelos capazes de prever o comportamento dos materiais geotécnicos em diversas situações. Por exemplo, um modelo capaz de prever como o terreno vai se deformar quando um aterro é construído sobre ele ou até mesmo como edifícios vão ser afetados durante e após a construção de um túnel que passa por debaixo deles.
Meus estudos estão ligados justamente ao processo de modelagem matemática desses fenômenos próprios da Engenharia Geotécnica, de forma que entendo que minhas principais contribuições são no sentido de propor modelos mais precisos e mais acessíveis aos demais profissionais. Sempre busco agregar conhecimento de outras áreas do saber para propor novas soluções e apresentar novas perspectivas sobre problemas já conhecidos. Nesse processo, acabamos descobrindo que soluções já aplicadas em outras áreas também são adequadas para nossos problemas.
Por fim, outro ponto que sempre busco abarcar em minhas pesquisas é a interface entre academia e prática profissional de campo. Dessa forma, sempre que possível buscamos aliar o conhecimento prático dos mais diversos profissionais que vivenciam determinado problema às soluções que a academia pode proporcionar.